quinta-feira, 5 de março de 2015

A arte do desencontro

Domingo, 28 de dezembro de 2014, Veneza, Itália.


Segundo dia em Veneza, que era, na verdade, o primeiro. Demorara a amanhecer naquele quarto frio. Saíram já quase à hora do almoço. A cidade era esquisitamente linda durante o dia. Havia um colorido que emanava daquelas ruínas em meio àquelas águas de um verde não saudável.
Ela perguntava-se onde estava escondida aquela cidade na noite anterior. Até uma pista de patinação no gelo brotara do nada. Genial! Sentiu-se alegre por alguns minutos, mas vez em quando a melancolia sussurrava-lhe ao ouvido. Ela fingia não ouvir, mas nunca fora boa em dissimular.
Era uma cidade para os amantes, não tinha dúvidas. Quando escolheu ir lá, pensara nisso. Como não se apaixonar na cidade mais romântica da Europa? Ela tristemente descobriu que para ele isso era possível.
Ele achava tudo incrível. Era apaixonado por ruínas, cidades antigas, prédios antigos. Veneza era perfeita para ele. Antiga, em ruínas e com um concerto de Vivaldi em cada esquina. Para ela, era irrelevante, não entendia de música clássica. Para ele era o paraíso. Para variar, discutiram por isso. Mas o passeio estava agradável naquele dia que se fizera noite. Última noite em Veneza... Um pouco de álcool para acalmar os ânimos e recompor a alma.

Desde que chegara à Europa e ele demonstrara não querê-la, ela sempre achava que precisava de uma dose a mais. Só assim ela divertia-se, só assim ela libertava-se. Em meio à embriaguez, doía-lhe menos o fato de haver sempre uma europeia tão linda para ele quanto ela jamais seria.

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