domingo, 8 de março de 2015

A arte do desencontro

Sexta-feira, 02 de janeiro de 2015, Roma, Itália.


Terceiro dia em Roma e ainda não haviam visto muito. O cansaço os consumia. O turismo estava mais para obrigação que para diversão. Estavam em Roma, em pouco tempo não estariam mais. Havia muito o que ver e não dava para ficar na cama a curtir toda a preguiça que vinha com o inverno. Caminare a ver o Vaticano!
O clima entre eles não era dos mais amistosos. Ela anulava-se ao máximo para não incomodá-lo, ele incomodava-se sempre. Com a forma como ela o olhava, como caminhava, como mantinha-se desatenta. Toda ela era um incômodo, ela sentia, e desejava poder ser invisível.

Tranvia, metrô, Coliseu. Fotos, fotos, fotos. Dele, porque ela já não se importava. Uma dor começou a importuná-lo, tinha a cabeça em colapso. Antes de qualquer coisa, ele a tratou mal. Ela aceitou o maltrato diminuindo-se um pouco mais, já quase não existia. Preocupava-se com ele. ¿Qué le pasaba que le dolía tanto la cabeza? Cuidou dele. Tratou de achar o camino, apesar de nunca prestar atenção e ser péssima com mapas. Amava-o apesar de tudo e não queria que nada de ruim lhe acontecesse.
Foi um dia de distâncias. Ela acreditava que as religiões mais afastavam que reuniam as pessoas. No Vaticano não foi diferente. Em meio ao mundo sagrado católico, eles caminhavam no meio de uma multidão que nada mais podia compartilhar. Todos de olhos e ouvidos atentos.  Foi um dia de paz em meio a tantos passos e burburinhos, além da voz da guia a gritar-lhes nos ouvidos. Quase não se falaram, não puderam brigar. Mas, uma hora a visita acabou e eles foram expulsos do paraíso dos mundinhos inviduais e recomeçaram a incansável desarmonia. Vencida, ela resignou-se uma vez mais em busca de alguma paz. Sempre era melhor quando escolhia não falar, não brigar, não expor-se. Por dentro ela ia definhando, por fora, a expressão entregava-lhe os pensamentos. Tinha o sorriso cada vez mais triste e dos olhos sempre reluzentes, encantadores, expressivos não escapava nada mais que um pranto oculto.

No último dia em Roma, não houve amor, não houve carinho, não houve perdão. Na cidade mais sensual da Itália, não houve sexo. Não houve nada. No meio da noite, ele quis tocá-la, mas algo o fez recuar, ela não insistiu. Adormeceu na solidão, entre mágoas e desejos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário