sexta-feira, 13 de março de 2015

A arte do desencontro - final

Domingo, 04 de janeiro de 2015, Lisboa, Portugal.

Enfim, era chegado o momento da partida. Deixar Portugal, um ao outro, sem saber como se rotularem. Que eram agora? Amigos? Inimigos? Ex-amantes? Não sabiam. Contudo, já não eram os mesmos. Já não eram a imagem outrora a milhares de quilômetros, já não eram os que se encontraram no aeroporto de Lisboa em um abraço terno, já não eram os que se entregaram com fervor em uma noite em Florença. Perderam-se demais ao longo desse encontro...
Era um dia lindo de sol na capital portuguesa. Havia ainda algumas horas a serem aproveitadas antes do adeus final. Comidinha, filminho, pipoca e uma boa dose de autocontrole. Como não brigar quando se queriam matar? Ela, por ele não ter sido nada do que ela imaginara e por tê-la cativado tanto sem querer ser responsável por isso; ele não lera O pequeno príncipe ainda. Ele, por ela também não ter sido nada do que ele sonhara. Ela era o seu sonho ao contrário, um sonho que se desfizera num beijo.
A viagem até o aeroporto era relativamente curta, não havia tempo para reconsiderações sobre todo o trajeto que se iniciara dia 17 de dezembro de 2014 e terminava quase vinte dias depois no mesmo ponto. Era um recomeço?

Em frente à área de embarque, os dois abraçaram-se para nunca mais. Um abraço que envolvia tudo o que não se podiam dizer, tudo o que não saberiam dizer. Ela, incompreensivelmente agarrava-se a ele, queria ficar ali para sempre, e as lágrimas saltaram-lhe sem freio, sem vergonha, sem pensar. Ele a estreitava em seus braços numa entrega, até então, negada. Em meio às lágrimas dela, ele a beijou, e ela quis que aquele beijo jamais acabasse. Ele lhe enxugou as lágrimas, consolava-a com os olhos e as mãos cheios de um carinho e de uma compreensão que ela tanto buscara durante aquela viagem. Enfim, encontrara, era, porém, demasiado tarde. No tardar da hora, desvencilharam-se obrigatoriamente. Ela não olhou para trás, ele também não, seguiram seus caminhos. Quem os visse ali, numa despedida tão doída e tão doce, julgaria, sem dúvida, tratar-se de um casal apaixonado. Quem não os terá invejado naquele momento tão inexplicado? Mas como o coração do outro é terra de ninguém, ela voltava pesada de ressentimentos e com o coração em frangalhos. Ele sentia-se enfim livre do peso de um sonho que não foi. De tudo, restou aos dois a certeza de nunca haverem-se encontrado.


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