Quinta-feira, 18 de dezembro de 2014, Madri, Espanha. - A arte do desencontro
Levantou-se com o cansaço de dois dias no rosto e no corpo. O estômago
seguia embrulhado, não lograva estar fisicamente bem, todo o corpo era um
reclamo. Esforçava-se para parecer bem, para dar a ele o melhor de si,
sorria-lhe de bom dia.
A viagem de avião foi breve. Apesar do incômodo, ela sentia-se bem
apoiada no ombro dele, de mãos dadas. Era chegado o amor?
Finalmente o descanso de um hotel. Ele a tomaria nos braços finalmente? Na
cama em frente, mais uma vez, ele dormia. Ela banhava-se, perfumava-se, tentava
de todos os modos chamar-lhe a atenção. Ele parecia não vê-la.
O amor tão sonhado e sutilmente provado desprendia-se dela, ela sentia,
sentia e não queria acreditar. A interrogação martelava-lhe a cabeça, doía-lhe,
massacrava-lhe. Lançou a ele então a pergunta sem querer ouvir a resposta, mas
a resposta veio, forte, cruel, fulminante. O amor que ela nem chegou a ganhar,
perdera-se de repente. Uma dor trespassou-lhe o peito e ela chorou, chorou como
uma criança, em desespero, inconsolável. Ele não chorava, mas igualmente não encontrava
saída, consolo. Não queria magoar a amiga tão querida, por anos cultivada, mas não
podia amá-la, não como mulher, não como ela desejava. Sentia o sofrimento dela
levar-lhe a amizade que tão naturalmente havia se consolidado. Era triste, era
doído e não tinha remédio. Culpava-se. Por que a beijara? Por que plantara nela
a semente da ilusão? Ela sofria, parecia um sofrer sem fim, e seguia
desejando-o. Não entendia. Sentia-se frágil, doente, sem dignidade. Por que
ainda o queria? Ferida, ela quis feri-lo também, mas arrependia-se. Não queria
vê-lo ferido, não podia. Com tantos dias à frente, restou-lhe encarar o caminho
e dissimular um contentamento quase impossível. Bem-vinda à Europa.
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