quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A arte do desencontro

Quarta-feira, 24 de dezembro de 2014, Paris, França.

Ah, Paris, Paris... Desde a janela do trem podia-se ver a mudança no ar, no céu, nas longínquas casinhas francesas do interior que iam preparando os olhos do viajante para o esplendor da cidade que é a queridinha dos sonhos de onze em cada dez pessoas.
Era um típico dia de inverno parisiense, nublado como os sonhos dela, mas impressionante e inexplicavelmente lindo. Há em Paris uma essência envolvente, um torpor que te transforma pelo simples fato de estar ali, de saber-se em Paris. Cada rua estreita com seus cafés caros e suas porções mínimas dialoga com você num francês que não é, sob nenhum ponto, arrogante. Cada ponte é tão linda e triste que dá vontade de morrer em uma delas. E naquele 24 de dezembro, véspera de natal, eles estavam lá, na capital da cultura e do amor, em umas das cidades mais românticas do mundo, para ver muito amor desperdiçado.
Apesar da chuva, eles aproveitaram o dia. Andaram por pontes, subiram a Torre Eiffel, fotografaram-se. Por horas, ela chegou mesmo a esquecer que carregava um coração partido. Porém, na cidade do amor, não dá para manter isso escondido por muito tempo. Ali estavam eles, os casais felizes a esfregar na cara dela o que ela não tinha, cada gota do seu amor sonhado, cada pedaço do seu amor rechaçado. Ele esforçava-se para parecer bacana, para fazê-la sentir-se bem. Ela esforçava-se de volta e iam assim equilibrando as forças e mantendo um equilíbrio. Fazia frio e ele abrigava-se nos próprios braços, ela desejava abrigar-se nele. Não prometera que não a deixaria sentir frio?
Os Campos Elísios são uma avenida de muitas luzes e de lojas caras, e ao fundo pode-se ver o Arco do Triunfo. Quem diria... Para onde foram os campos... Ao fim do dia, em meio à famosa Eliseé, ele ainda mantinha a alegria, a suposta alegria natural por estar em Paris. Ela já estava exausta de tanta alegria dissimulada, de tanta obrigação de estar feliz. Dentro dela, como em Paris, chovia.
¡Estás en Paris y como qué no importa!
Encasacou sua tristeza outra vez e pintou no rosto algum contentamento. Em sua alma, era exatamente isso: não importava. Os franceses tomaram a Bastilha, fizeram revolução, estava tudo ali. E daí? Ele não quisera o seu amor.
Já em casa, em clima de natal, eles ensaiaram algum carinho e dormiram sem pensar em um Before Sunrise.


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