quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A arte do desencontro

Sábado, 20 de dezembro de 2014, Barcelona, Espanha.

Saíram de Madri extremamente atrasados e ela, mesmo com os pés destroçados pelo salto alto da única bota que ela insistira em levar, teve de correr. Quando finalmente chegaram a Barcelona, ela se sentia terrível, parecia carregar no rosto, nos ombros, além do cansaço da jornada, toda a dor da rejeição, a frustração do amor não vivido, a desilusão da possibilidade que não foi. O dia passava, desgastava-se a nova esperança surgida na noite anterior, ia aos poucos se desintegrando.
Passeando à noite pelo porto de Barcelona, ao lado dele, não podia parar de pensar em como simplesmente ele podia, sem o menor esforço, não lhe dar atenção. Desejava estar sozinha ali, ser-lhe-ia menos penoso. Os barcos, as luzes, o mar, o vento frio, o homem a quem aprendera a amar e a solidão em seu peito.
O jantar foi espetacular. Mariscos à beira da praia, cerveja, risadas. Por alguns minutos, ela esqueceu que estava sozinha. Na volta para casa, nutriu a última esperança de que ele voltasse a si e a tomasse nos braços. Não aconteceu. No quarto, ele deitou e dormiu tranquilamente, totalmente esquecido da mulher ao lado dele. Ela não pôde dormir, os pensamentos a enlouqueciam. Não podia suportar a ideia de que toda a sua entrega não havia representado nada para ele. Isso a maltratava de uma maneira que ela nem saberia como descrever. Tentou ler, mas não conseguia concentrar-se. Saiu, baixou ao hall. Quem sabe alguém para conversar... Nada. Voltou.
_¿Saliste? ¿Qué te passa?
Ao menos notara sua ausência, era mais que um criado-mudo daquele quarto. Deu-lhe uma desculpa: insônia. Ele tentou abrigá-la em seus braços, com o único intuito de ajudá-la, de fato, a dormir. Ela não podia acreditar. Queria gritar, queria matá-lo. Odiava-o naquele momento. Não se pôde conter. Interpelou-o, acusou-o. A resposta foi simples e dura. Havia sido para ele uma noite apenas, como uma desconhecida qualquer com quem tivesse sexo e nenhum laço, concluía ela. Virou-se e esperou insatisfeita que o dia amanhecesse. Quanto de olheiras acumularia até o fim da viagem?


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