Sábado, 20 de dezembro de 2014, Barcelona, Espanha.
Saíram de Madri extremamente atrasados e ela, mesmo com os pés
destroçados pelo salto alto da única bota que ela insistira em levar, teve de
correr. Quando finalmente chegaram a Barcelona, ela se sentia terrível, parecia
carregar no rosto, nos ombros, além do cansaço da jornada, toda a dor da rejeição,
a frustração do amor não vivido, a desilusão da possibilidade que não foi. O dia
passava, desgastava-se a nova esperança surgida na noite anterior, ia aos
poucos se desintegrando.
Passeando à noite pelo porto de Barcelona, ao lado dele, não podia parar
de pensar em como simplesmente ele podia, sem o menor esforço, não lhe dar atenção.
Desejava estar sozinha ali, ser-lhe-ia menos penoso. Os barcos, as luzes, o
mar, o vento frio, o homem a quem aprendera a amar e a solidão em seu peito.
O jantar foi espetacular. Mariscos à beira da praia, cerveja, risadas. Por
alguns minutos, ela esqueceu que estava sozinha. Na volta para casa, nutriu a última
esperança de que ele voltasse a si e a tomasse nos braços. Não aconteceu. No quarto,
ele deitou e dormiu tranquilamente, totalmente esquecido da mulher ao lado
dele. Ela não pôde dormir, os pensamentos a enlouqueciam. Não podia suportar a
ideia de que toda a sua entrega não havia representado nada para ele. Isso a
maltratava de uma maneira que ela nem saberia como descrever. Tentou ler, mas não
conseguia concentrar-se. Saiu, baixou ao hall. Quem sabe alguém para
conversar... Nada. Voltou.
_¿Saliste? ¿Qué te passa?
Ao menos notara sua ausência, era mais que um criado-mudo daquele quarto.
Deu-lhe uma desculpa: insônia. Ele tentou abrigá-la em seus braços, com o único
intuito de ajudá-la, de fato, a dormir. Ela não podia acreditar. Queria gritar,
queria matá-lo. Odiava-o naquele momento. Não se pôde conter. Interpelou-o,
acusou-o. A resposta foi simples e dura. Havia sido para ele uma noite apenas,
como uma desconhecida qualquer com quem tivesse sexo e nenhum laço, concluía
ela. Virou-se e esperou insatisfeita que o dia amanhecesse. Quanto de olheiras
acumularia até o fim da viagem?
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