17 de dezembro de 2014, quarta-feira, Lisboa, Portugal.
Desde a adolescência sonhava com o velho mundo. A História, os filmes, a
fantasia. Enfim, o sonho se faria verdade. Detrás desse sonho, carregava
outros, que escondia muy adentro mas
não tão encobertos.
Os dias que antecederam a viagem não foram tão difíceis quanto ela
imaginara. Parecia não se dar conta, finalmente o grande dia estava chegando,
aproximava-se, roçava-lhe a pele, aí estava!
Recém havia completado trinta anos, a primeira idade que pesa para uma
mulher e declara-lhe sem rodeios: ya no
eres niña! Para uma mulher, um grande passo: go to Europe!
Aterrissou em Lisboa com o estômago embrulhado, o cansaço evidente e os
anseios a picar-lhe as maçãs do rosto. A fila de controle de passaportes era
torturante. Estaria ele a esperá-la? Estaria há tempo? Cansava-se? Estava ansioso?
Questions, questions, questions...
ok! Procura em meio à multidão o rosto amigo que nunca viu de verdade. Ali está,
um rosto branco, doce. Sorriu encaminhando-se a ele até ser envolvida pelo seu
abraço manso, terno. Tentou beijá-la a primeira vez, ela não entendeu muito
bem, esquivou-se sem querer. Investiu novamente e seus lábios tocaram os dela
de forma tímida e delicada. Ela sentiu neste minuto o prazer nunca antes
sentido do amor recíproco e foi imediatamente envolta em uma aura de segurança,
paz e euforia.
O caminho ao hotel era longo e em meio ao percurso nenhum dos dois
encontrava bem as palavras a serem ditas. Sentada em frente a ele, ela
mirava-lhe os olhos sem muita discrição. Fascinavam-na desde o primeiro
momento. Tinham uma cor de mel quando posto contra a luz. Eram lindos.
Finalmente a sós. Em algum quarto de hotel em Lisboa, duas almas tão
conhecidas lutavam por reconhecer no outro cada parte de um querer tão
cultivado. Ela ansiava por um beijo mais, um toque mais, a respiração dele
pertinho. Ele então a tomou nos braços, fê-la deitar-se junto a si e começou a
preencher com beijos e mãos o calor que exalava dela. Toc, toc! A boca
desprendeu-se do seio e atendeu à porta, que inconveniente! So fast! Ela conteve o desejo e
concordou gentil e desconcertada. Ele adormeceu ao seu lado, ela não pôde
dormir.
Caminhando pela cidade, não havia mãos dadas, não havia intimidade
suficiente, e as mãos dela se punham geladas, petrificadas, doentes. A boca
esperava mais um beijo que nunca vinha, um ensaio, nada mais. E no frio inverno
europeu, ele dormiu ao lado do corpo dela seminu.
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