Inevitavelmente acabou sabendo, sim, ela estava namorando. Que rápida! Perguntava-se se era algo de quando ainda estavam juntos. Se ela se havia ido com desculpas idiotas, fazendo-o sentir-se culpado. Sentiu-se mal, a cabeça dava voltas, o estômago estava estranho, às vezes, vinham-lhe ânsias de vômito. Por fim, gritou: basta!
Iria esquecê-la, precisava esquecê-la. E guardou os livros de literatura no armário.
Não há melhor remédio que o tempo com músicas e risos enquanto ele passa. Assim foi. O tempo fez com que ele percebesse que sim, havia vida além do primeiro amor, e ela tinha gosto de alfajor de doce de leite. Aprendeu a ser só por um tempo e a sentir-se livre com a solidão.
Um ano, um ano foi o tempo para esquecer. Esquecer de estar sempre ocupado, ocupado perdendo-se em pensamentos, girando, voltando ao mesmo ponto. Haverá prazo de validade para a paixão? O dele havia expirado, definitivamente. Era quase maior de idade, tinha dezessete e só queria uma coisa, não querer.
"Lenguajes" é uma proposta de interação através de poemas, canções e discussões, sejam estes em português, em espanhol ou da forma que convier à velha(não tão velha assim)cachola. Com bom humor ou não, e vez em quando com uma lágrima doce...
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
domingo, 13 de janeiro de 2013
A arte do encontro XIX
Por essa época, como andava nossa heroína, hein, caro leitor? Não sei se
já mencionei que nossa brazuca é quase sete anos mais jovem que nosso Hermano.
Fazendo os cálculos, ela devia estar aí pelos nove anos, começando a
preocupar-se com a cor do batom. Só tinha vivido um amor, aos seis anos,
lembra-se? Ah leitor esquecido... Volte ao início da história e verás que te
digo a verdade, embora a palavra não seja exatamente “vivido”...
A questão é que, enquanto o nosso herói julgava-se reerguido do primeiro
grande amor naufragado, nossa princesa tentava ser a melhor aluna da terceira
série, o agora quarto ano, para o povo mais antenado nas nomenclaturas. Ninguém
pode negar que eram dois grandes momentos, mas voltemos ao nosso che.
Ia bem na superação do seu primeiro pé na bunda significante, depois de
alguns meses, já tinha se convencido, era isso... Não contava porém, com a
possibilidade de encontra-la na rua, -calma, refiro-me à boluda da adolescência
de nosso querido, não à nossa menina- pois é, a encontrou. Foi deveras desconcertante.
Sentiu-se como quando olhava nos olhos amendoados da loirinha de sua infância. Mas
era pior, porque agora tinha total noção de sua vulnerabilidade e odiava isso.
Ela o cumprimentou com um “hola” meia boca, ele respondeu de forma quase
inaudível e seguiu caminho tentando desaparecer. Depois de alguns passos,
virou-se, não pôde evitar. Ali, numa esquina próxima, ela conversava
alegremente com um desconhecido.
A cabeça passou a desde ai seguir o ditado chinês “uma imagem vale mais
que mil palavras” e não parou de martelar e criar fantasias. Não o atendia,
funcionava sozinha e pensava em muitas coisas, todas relacionadas a ela. Com quem
estava? Quem era ele? Porque ela sorria tanto? Estaria já namorando outro? Pena
o coração ser tão frágil e demorar tanto a cicatrizar. Não fosse assim nosso herói
não estaria sofrendo tanto. Tirara as ataduras antes do tempo, era fato. Tentava
mudar o pensamento. Lia, via tevê, escutava canções, andava de um lado para
outro. Paliativos... Ao fim era hora de dormir e a cabeça seguia trabalhando de
forma involuntária.
Não entendia por que se importava tanto. Pior, não aceitava importar-se. Lo
hecho está hecho e o passado tem de ficar para trás. Mesmo sem explicação racional,
não pôde dormir naquela noite.
Enquanto isso, a milhares de quilômetros, a nossa princesinha dormia o
sono dos anjos esperando tirar uma boa nota na prova de matemática.
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
A arte do encontro XVIII
O tempo passou e o relacionamento deles, enfim, era do conhecimento de
todos. Um ano juntos... Passou rápido. Estar ao lado dela fazia o tempo parecer
sempre mais curto para ele, cheirava à felicidade. Ainda assim, algo começava a
incomodá-lo. Sentia falta de estar com os amigos, de sentir-se mais livre. Como
dizer a ela, porém, que precisava de espaço? Sentia que não podia, que
terminaria por magoá-la, e nem podia imaginá-la magoada. Magoava-se ele antes.
Continuou vivendo assim, iam passando-se os dias, os meses, ele ali,
tentando fingir ser o mesmo de há um ano e algo. Cada vez funcionava menos. Ele
não se divertia como antes, ela já não se sentia tão amada; o notava cada vez
mais distante, disperso. Ela, como toda mulher, quis entender, ele, como todo
homem, não queria explicar. E de tanto não se entenderem, ela lhe disse adeus
em uma fria noite de inverno. Saiu ainda sem entender como chegaram àquilo e
completamente magoada como ele jamais quisera. Ele foi chorar embaixo das
cobertas, lamentando as palavras não ditas, a pequena mágoa não logo causada.
No dia seguinte, a mãe surpreendeu-se com a presença dele na cozinha às
dez da manhã. Era tempo de aulas e ele não havia ido à escola. Ela também havia
acordado tarde e julgava que ele já houvesse saído. Quis entender. Ele fingiu
estar doente. Com todo o frio do inverno, não era difícil de acreditar. Tomou o
café da manhã e voltou à cama para continuar a pensar e a sofrer. Pensou em
ligar para ela, conversar finalmente, desculpar-se, explicar-lhe, mas desistiu
ao fim. Já não era tempo para isso “lo hecho está hecho”, e foi adormecer entre
lágrimas.
...
Os dias foram se passando, gélidos e pesados. A separação fez-se
perceber. A cada curioso que o incomodava com indagações, respondia seco e
breve: cortamos, es todo.
O tempo o ensinou a voltar a viver sem ela, os amigos foram se tornando
mais próximos, ele divertia-se mais e acabou por achar que era o momento de ser
mesmo assim. Vez ou outra, porém, saía-lhe alguma poesia e os livros de
literatura já não lhe pareciam tão entediantes.
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