Depois de seis meses de espera e ansiedade, ansiedade que fazia dela alguém peculiarmente perturbada em alguns momentos, ele concretizava-se diante dela. Lindo... Era o único pensamento que ela conseguia organizar ao virar-se depois de ouvir a voz dele.
Em uma noite de verão, enquanto ela ensaiava, diante da tela, um inglês que teimava em não funcionar, ele apareceu, numa janelinha discreta que assobiava na tentativa de chamar a atenção dela. Putz, esquecera o chat ligado. Isso a atrapalhava na conclusão dos exercícios, preferia desativá-lo. Mas ele a chamava, e ela resolveu ver que rosto tinha em que idioma falava aquele chamado. O rosto tinha uma seriedade doce que contrastava com traços extremamente masculinos e o idioma tinha a sedução latina com direito a acento portenho. Como resistir a um papo com alguém que falava a segunda língua dela? Não resistiu. Era a chance de pôr em prática o seu espanhol de dez anos de estudo e alguns mais de paixão, e que a vida tentava lançar ao esquecimento. E aquela carinha...
Vamos a hablar!
Hola!
Hola!
Como andas?
Que tal?
Cuantos años tenes vos?
Y tu, cuantos años tienes?
De donde sos en Brasil?
De donde eres?
E entre tuteos e voseos, quilombos e líos, desde dois mundos tão distantes e diferentes, eles se entendiam perfeitamente. O espanhol dela, mesmo enferrujado, fluiu, e eles riram muito, divertiram-se, até que ele não pode mais ficar. Mas ele queria mais. Que doce, que divertida era ela. Que agradável era tudo o que ela escrevia. Não podia correr o risco de não mais sentir aquela sensação. Trocaram e-mails e prometeram-se um hasta luego e um hablamos.
Ela saiu da frente do computador e foi à cozinha. A mãe já a chamara várias vezes para o jantar, mas ela dava como resposta apenas um “já vai” e não chegava à mesa. Ao chegar, contou aos pais que conversara com o argentino. Era muito ansiosa e eufórica para manter segredo sobre algumas novidades. Mas não gostava disso. Compartilhar fatos da sua vida com todos ao redor já lhe rendera algumas dores de cabeça. Mas não conseguia controlar o erro.
Entrar em contato com uma realidade sobre a qual ela aprendera nos livros, a fascinava. Sonhava em sair daquele bairrozinho, em meio a uma realidade tão sem perspectivas, ir conhecer o mundo. Mas isso era algo tão distante para ela que considerava apenas objeto de sonhos. O contato com um estrangeiro a fazia sentir-se meio teletransportada a um outro universo.
continua...
Esse filme eu já vi e ,como sempre, no livro tem uns detalhes diferentes... haha
ResponderExcluirque lindo! parabéns!
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