domingo, 13 de abril de 2014

A arte do encontro XXV

Apaixonara-se, depois de um momento breve, levada pelo torpor momentâneo dele, ela se havia apaixonado. Ele? Seis meses depois ele já não sentia o impulso que o levara a buscá-la incessantemente naquela noite.
Não compreendia o que se passava consigo. Ela seguia ali, linda, tão linda quanto na noite em que a conhecera, muito mais doce que naquela noite, very sweety, e tão perto. Haviam-se tornado namorados logo após o primeiro encontro, com direito a mãos atadas e passeio no parque. Os garotos sonhavam com aquela deusa, as garotas invejavam a sorte dela; e no meio dos dedos entrelaçados, crescia, dia a dia, um vazio que se tornava maior a cada aperto.
Ele fingia estar apaixonado, ela fingia não notar que ele fingia, e oferecia a ele o seu melhor sorriso, a sua palavra mais doce, o seu carinho mais sincero, mas sentia definhar a cada dia toda a magia que os envolvera nos primeiros beijos, nos primeiros toques, em cada primeira sensação compartilhada. Não tinha, porém, coragem para reagir, conversar, enfrentar.
Ele sentia nela um amor cada dia mais devotado e não queria magoá-la. Ela era uma flor, bela, delicada, de que tantos queriam cuidar, mas para ele, regá-la, protegê-la, estava tornando-se tarefa árdua. Perguntava-se diariamente o que faltava a ela, ou seria a ele... Tê-la tão distante na disco o desafiou, tê-la ali tão perto, tão entregue, era demasiado simples, fácil, já não lhe dava a gana necessária para continuar, tornara-se enfadonho. E numa bela noite de verão, quase oito meses depois do primeiro encontro, em meio a um drinque, sem direito a dança, ele não conteve os lábios e disse simplesmente:
_ No puedo más.
Ela não buscou respostas, não procurou entender, deixou-se ficar ali, imóvel, enquanto o via afastar-se mais e mais, até perder-se na multidão. Não ouvia a música, não sentia o calor. Concentrava-se em sua dor, e as lágrimas iam pouco a pouco acariciando-lhe o rosto e beijando-lhe os lábios, numa tentativa inconsciente de autoconsolo.
Lá fora, o vento tocava a face dele enquanto ele caminhava pela noite de verão. Havia dentro de si um misto de angústia e liberdade. Foi andando até a casa, deixando em cada esquina algo de angústia até poder respirar normalmente. Já na cama, pensou na lágrima que vira brotar dos olhos dela ao falar-lhe por última vez, e chorou até poder desfazer-se o suficiente da angústia para adormecer.