Apaixonara-se, depois de um
momento breve, levada pelo torpor momentâneo dele, ela se havia apaixonado. Ele?
Seis meses depois ele já não sentia o impulso que o levara a buscá-la
incessantemente naquela noite.
Não compreendia o que se passava
consigo. Ela seguia ali, linda, tão linda quanto na noite em que a conhecera, muito
mais doce que naquela noite, very sweety,
e tão perto. Haviam-se tornado namorados logo após o primeiro encontro, com
direito a mãos atadas e passeio no parque. Os garotos sonhavam com aquela
deusa, as garotas invejavam a sorte dela; e no meio dos dedos entrelaçados,
crescia, dia a dia, um vazio que se tornava maior a cada aperto.
Ele fingia estar apaixonado, ela
fingia não notar que ele fingia, e oferecia a ele o seu melhor sorriso, a sua
palavra mais doce, o seu carinho mais sincero, mas sentia definhar a cada dia
toda a magia que os envolvera nos primeiros beijos, nos primeiros toques, em
cada primeira sensação compartilhada. Não tinha, porém, coragem para reagir,
conversar, enfrentar.
Ele sentia nela um amor cada dia
mais devotado e não queria magoá-la. Ela era uma flor, bela, delicada, de que
tantos queriam cuidar, mas para ele, regá-la, protegê-la, estava tornando-se
tarefa árdua. Perguntava-se diariamente o que faltava a ela, ou seria a ele... Tê-la
tão distante na disco o desafiou, tê-la ali tão perto, tão entregue, era
demasiado simples, fácil, já não lhe dava a gana necessária para continuar,
tornara-se enfadonho. E numa bela noite de verão, quase oito meses depois do
primeiro encontro, em meio a um drinque, sem direito a dança, ele não conteve
os lábios e disse simplesmente:
_ No puedo más.
Ela não buscou respostas, não procurou
entender, deixou-se ficar ali, imóvel, enquanto o via afastar-se mais e mais,
até perder-se na multidão. Não ouvia a música, não sentia o calor. Concentrava-se
em sua dor, e as lágrimas iam pouco a pouco acariciando-lhe o rosto e
beijando-lhe os lábios, numa tentativa inconsciente de autoconsolo.
Lá fora, o vento tocava a face
dele enquanto ele caminhava pela noite de verão. Havia dentro de si um misto de
angústia e liberdade. Foi andando até a casa, deixando em cada esquina algo de
angústia até poder respirar normalmente. Já na cama, pensou na lágrima que vira
brotar dos olhos dela ao falar-lhe por última vez, e chorou até poder
desfazer-se o suficiente da angústia para adormecer.