quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A arte do encontro XXII


ELE
Quando nosso herói se apaixonou de novo? Ih, demorou. O seu primeiro grande amor acabou lhe deixando feridas profundas, tornou-se arisco. Durante quase dois anos não fez muito mais que ocupar-se de si mesmo. Amigos, festas. O mundo se mostrava pra ele, abria todas as portas disponíveis aos belos e jovens.
Estava na idade das grandes resoluções e em uma época em que tudo o que se quer é não ter de resolver nada importante. Mas era preciso decidir. Decidir a carreira, o futuro, a vida. A adolescência estava dando-lhe adeus, era necessário mirar o mundo com seriedade e de frente. Era chato, difícil e necessário. Depois de mais de um ano que havia terminado o ensino médio, pensando em que fazer, acabou não seguindo o esperado, não foi à universidade como estava previsto. Saiu para buscar trabalho. Tinha dezenove, era homem e precisava de independência. Acabou tornando-se vendedor em uma loja de roupas e acessórios da moda. Sua aparência de Ken fazia dele mais um bonequinho da vitrine, vendia bem, era bom para a loja. Estava feliz. Cuidava de suas coisas, tinha seu próprio dinheiro, embora menos tempo para as festinhas; às vezes, sentia-se um pouco cansado para ir às discos, depois de uma semana de trabalho, nem tudo são flores, menos ainda energia.  O cansaço tampouco era comum. Aos dezenove, nunca se está suficientemente cansado. !A bailar! E dançava, dançava como se o mundo não o observasse, como se a noite não fosse o bastante. Chegava a esquecer-se dos amigos, voando, voando... Ao aterrissar, teve a impressão de descer no fundo mar. Havia uma sereia movendo-se ao seu lado. Nem conseguia ouvi-la cantar e já se havia enfeitiçado.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A arte do encontro XXI


ELA
E ela, o que fazia aos dezessete? Pensava que a vida resumia-se em ser a melhor aluna da classe. Seu universo, de fato, cabia em uma casca de noz. Seu desejo? Entrar em uma universidade, uma pública, que diziam ser melhor. Não sabia que carreira seguir. Sua decisão  confrontava-se entre o que julgava ser uma boa carreira, suas verdadeiras aptidões e sua pouca confiança em si. Sempre fora insegura, desde o jardim de infância. Não sabia lidar com a perda e tendia a escolher o caminho mais fácil, sempre.
Terminou os anos escolares sem um grande amor de adolescência, coisa tão presente na vida das meninas. Desde o primeiro beijo no portão da escola, apaixonara-se muitas vezes: o garoto da outra rua, o professor de matemática, o de inglês, o de informática... Era realmente uma aluna aplicada. Mas a dedicação não lhe deu nenhum diploma. Terminou o colegial solitária. O garoto nunca a pediu em namoro e, por fim, não quis mais vê-la. Ela, porém, continuava a passar pela rua dele, o coração aos saltos, a esperança quase inesgotável. Quando o via, Dios! Ele fingia não vê-la e ela ia-se com o peito a doer-lhe, a cabeça a confundi-la. Demorou anos até dar-se conta: esquece, não é ele. Quanto aos professores, não a levavam tão a sério fora de sala. Era bonita. Uma espécie de Anita a atentar-lhes com sua voz doce e seus movimentos de fêmea desabrochando. Exalava pecado. Vez ou outra, não resistiam, a beijavam, com certa fúria às vezes, chegavam a assustá-la. Mas não ia muito além a coisa. Ela seguia, enchendo-se de fantasias, de desejos que acabavam quase sempre em palavras de um diário, conversas com a amiga mais próxima e lágrimas no travesseiro. Acostumara-se desde cedo a chorar ali, antes de deitar, baixinho, pra ninguém saber.
Dos doze aos dezessete colecionou paixões dolorosas e nenhum amor de novela. E assim chegaria à universidade.
Vestibular... Durante toda a vida pensara, o que iria ser? Quando criança. Imaginou-se primeiramente médica, depois, o amor pelos animais disse: veterinária, mas o pavor total a sangue e a outras coisas pavorosas a fizeram desistir. Chegara ao vestibular sem saber o que fazer. Apaixonara-se aos dezesseis pelo idioma espanhol, que estudava em um curso livre, mas as vagas na universidade eram pouquíssimas e ela nunca confiara muito em si. Os outros sempre confiaram muito mais. Ela perguntava-se, às vezes, seria ela a que acreditavam ser ou a que via no espelho. Nunca soube responder. A confiança de um amigo a fez ir adiante. Seria uma mulher das Letras, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Florbela Espanca, Isabel Allende. Seria ela, com todos os verbos e conjunções.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

SOBRE HOMENS E MULHERES E NOSSA CONDIÇÃO DESUMANA
Refletindo um pouco sobre um vídeo que vi sobre o pensamento masculino e como nós homens e mulheres naturalmente somos, cheguei à conclusão de que encontrar a pessoa dos sonhos e conseguir realmente viver com ela o relacionamento ideal, do tipo saudável, doce, verdadeiro, construtivo e cheio de tesão é completamente impossível.
Segundo consta no vídeo, de acordo como sempre me fala meu melhor amigo e com o que as circunstâncias da vida algumas vezes me esfregaram na cara, os homens querem aquela mulher que é atraente, delicada, não tão inteligente assim, meio fingidamente pudica e que claro, não tá nem aí pra ele. Sim, esta última parte é IMPORTANTÍSSIMA, pois mesmo que a moçoila tenha todas as outras qualidades, cairá tudo por terra se ela demonstrar interesse. Não que ele vá desdenhar a moça, assim de início. Ele jamais faria isso. Se ela der bola, assim pra não ser mal educado, ele simplesmente retribuirá  tanta atenção demonstrando interesse até que a pequena caia de lingerie na sua cama, e depois, a mandará docemente amanhecer em outra freguesia. Por quê? Por que mesmo, amigo? Humm, será algo nos genes ancestrais talvez... Sair, ver a caça, persegui-la, comê-la e ... não tem “e”, acabou, ponto. Quiçá reste um arroto.
Já se o contrário acontecer, ou seja, ela não lhe der bola, há duas possibilidades: ou ela realmente não tá afim, ou ela é uma mulher fria, calculista e mentirosa que finge não estar afim. No primeiro caso, não há romance, ela lhe dará um belíssimo toco. No segundo, quem sabe haja, se ela for fria o suficiente pra manter-se invulnerável até que o macho Homo Sapiens passe da fase Neandertal e se apaixone. Nesse caso, vamos às contradições... Quando se fala em relacionamento, todos lembram de verdade, sinceridade, fidelidade, lealdade e mais um monte de ade aí, no entanto... É, lá se foi o relacionamento ideal, embora creiam que deu certo a parte do ade não existia desde o início.
Com relação às mulheres, não vi nenhum vídeo, mas observando em redor e por que não interiormente e no meu espelho, posso dizer: clamamos aos quatro cantos que queremos homens apaixonados, fiéis, românticos, bonitos claro, embora algumas finjam que não. A questão é que ao desejarmos ter alguém ao nosso lado que realmente goste da gente, esquecemos que quem gosta, quem tá apaixonado, num primeiro momento soa deveras idiota. Sim, imagine um cara, que vá, mesmo que bem gato, chegue e fale uma frase tonta pra iniciar um papo, do tipo: oi, tudo bem, tá calor né? Anram será a possível resposta. Por quê? Porque não queremos ter filhos sem ideia. Isso aí, malditos genes de novo. Continuamos querendo, involuntariamente, homens seguros, que saibam o que fazer o que dizer e como fazer e dizer na hora em que devem fazê-lo. E talvez os biólogos estejam certos queremos essas características nos nossos filhos. Genética e subconsciente de merda. A questão é que um cara que age assim jamais estaria apaixonado porque gente apaixonada é insegura, fala merda, treme e com muita falta de sorte até gagueja. Esse cara todo delícia, tipo capitão de novela das nove, é o mesmo lá de cima, pra quem a gente vai dar bola e que não nos ligará no dia seguinte. O cara que falou do tempo já levou nosso toco e nós perdemos a chance de viver o romance. O que resta? Chorar no ombro da amiga, babar o travesseiro, escrever poesia, blablabá. Enfim, mais uma vez não haverá o relacionamento ideal.
É um círculo vicioso que mexe com a essência humana, ou você altera os fatores naturais e corre atrás da fingida e aceita ser apaixonado por uma possível psicopata ou passará a vida comendo as periguetes e as que ficaram facinhas por estar apaixonadas, até a exaustão. Se é mulher, tenta convencer o seu corpo e a sua mente de que eles precisam se acostumar a um babaca que ensaia frases nauseantes para lhe dizer,- ou seja, o tesão da relação sonhada já foi pras cucuias- pois no final ele é quem é o príncipe azul dos contos de fada que você leu na infância e que atormentam a sua vida até a idade adulta.